26.10.05

Só Estou Bem Aonde Não Estou I


Crónicas de Erasmus


Estou a fazer o primeiro semestre do curso de Línguas e Literaturas Modernas na Universidade de Maynooth (para os mais fracos em Geografia, fica 20 km a norte de Dublin – norte é para cima, Dublin na República da Irlanda). As razões desta escolha não interessam – por enquanto... O que interessa nesta primeira crónica é que estou a viver num apartamento, no campus universitário (campus num texto em português não soa tão bem), com mais três pessoas: um romeno, uma francesa e uma alemã. O romeno e a francesa são casados – um com o outro – e a alemã é uma freak em fase de negação... Acaba por não ser tão mau quanto parece – há televisão com doze canais! O que me indigna, para além das comidas alemãs que parecem papa e dos bolos sem açucar da francesa, é o ódio de morte que o romeno tem aos irlandeses. No outro dia, quando cheguei a casa depois de ir a um pub ver o jogo de apuramento para o Mundial de Futebol de 2006 entre a Irlanda e a Suiça, deparo-me com o romeno que me pergunta qual tinha sido o resultado do jogo. Disse-lhe que a Irlanda tinha empatado e que não ia ao Mundial... O gajo fica todo contente e começa a chamar aos irlandeses isto e aquilo, fuck daqui, motherfucker dali, etc, etc. O gajo há quatro anos que vive na Irlanda, ganha uns cobres a cantar num coro de igreja em Dublin, casou com uma francesa que conheceu na Irlanda, arrastou a francesa para viver com ele na Irlanda obrigando-a a arranjar emprego e a deixar a familia: fez tudo isto com um profundo ódio à Irlanda e aos irlandeses... É claro que se podia pensar que, vindo um gajo da Roménia, é mais que natural que prefira ficar num país que detesta a voltar para um dos representantes do terceiro mundo europeu... mas não! Aparentemente, e pelo que ele me conta, tudo na Roménia é melhor! A comida, as bebidas (tanto a água como o vinho), as mulheres, os bares, os transportes públicos, os carros (quando eu me ri ele disse que era o preço que era melhor, não os carros propriamente ditos)... até a carta de condução é melhor (“vê lá”, diz-me ele em inglês quase sem sotaque, “que aqui na Irlanda as cartas de condução são em papel cor de rosa, dobradas em três!” – é claro que fiquei chocado! Nunca pensei que pudesse haver cartas de condução em papel!)... Ora, como queria ser amigo dele (ele também faz uns biscates na recepção do prédio e arranja lâmpadas de borla!), disse-lhe que ele tinha razão – “até no desporto são melhores" (embora a Roménia também não vá ao mundial)... Nesse momento a sua cara perdeu o sorriso, as lágrimas apareceram-lhe no canto dos olhos... Pensei que tinha posto os pés na poça, que não devia falar de futebol numa altura destas, mas ele sai-se com esta: “Pois somos, mas... infelizmente não há dinheiro para pagar à equipa de ginástica para ir ao Jogos Olímpicos...”

5 comentários:

Freekowtski disse...

Portugal tem dinheiro para mandar a equipa de futebol, mas em contrapartida não tem dinheiro para ter hospitais e escolas decentes. Vocês estão bem os dois juntos.

J. Salinas disse...

Um romeno? Já lhe perguntaste pelo Boloni? E pelo Niculae? E, já que se fala em ginástica romena, como está a Nadia Comaneci? Olha que para uma mulher que deve andar perto do meio século, é bem recomendável…

E pergunta-lhe porque é que em Bucareste o dia nasce às 4 e meia da manhã!

Anónimo disse...

Não, desporto é golfe, automibilismo, xadrez e batalha naval.

Anónimo disse...

Sendo que a batalha naval e um desporto de alta competicao, que requer niveis de preparacao fisica e psicologica que nao estao ao alcance de todos os que amam e sonham vingar nesse mundo!

Joel disse...

o problema dos romenos é que são grandes, bebem bebidas fortes que até queimam e trabalham como o caraças,são quase máquinas. mas não são bons no maior desporto mundial, a lucha libre.