20.5.05

Crimes Capilares


Se já é suficientemente triste viciar as crianças num desenho animado que tem o pescoço bem mais largo que o crânio que suporta e o olhar mais acéfalo de que há memória, pior ainda é terem-nos obrigado a acreditar, durante anos a fio, que usar um penteado tão específico e ser um gajo fixe capaz de limpar o lixo mau das galáxias não eram propriedades mutuamente exclusivas. É óbvio que são.

Se bem se lembram, He-Man era a identidade secreta de um príncipe supérfluo (o Adam) que não contribuía em nada para a sociedade do planeta Etérnia. Num astro em estado de sítio, o princípe Adam distinguia-se por vestir uma camisa branca e umas calças roxas, tudo uns bons dois ou três tamanhos abaixo. Era ao empunhar a sua espada mágica e ao gritar “I got the power” (mais tarde esta frase tornou-se num hit tecnho de reconhecida qualidade), que o protagonista se transformava num super-herói. A mudança era drástica: He-man ganhava músculos, um bronzeado, uma tanga feita de peles animais e aquela espécie de cinto no peito sem utilidade aparente. Até a voz mudava, ficando mais máscula e intimidadora. Porém, mantinha-se o cabelo comprido oxigenado com a respectiva franja.

É muito triste quando aquilo que imediatamente nos vêm à cabeça quando se fala nesta série – que, valha a verdade, até era porreira – é um corte de cabelo, assuma ele que formas assumir. Ninguém se lembra da tensão sexual (nunca resolvida) que existia entre He-Man e Teela, nem ninguém se lembra que He-Man tinha uma irmã boazona, a She-Ra. Porra pá, se calhar contam-se pelos dedos de uma mão aqueles que se lembram de dois dos maus mais porreiros de sempre: o Skeleton e o Hordak. Ou do cabeça dura do Ram Man. A triste verdade é que He-Man será sempre lembrado pela sua crina, pelas suas, no mínimo e para ser simpático, híbridas melenas; e isso, meus caros, é essencialmente porque as suas opções nesse campo se constituem como um verdadeiro crime capilar.