9.11.05

Só Estou Bem Aonde Não Estou II

CRÓNICAS DE ERASMUS

O dia 20 de Fevereiro de 1993 marca o príncipio do fim... de quê? Da sanidade mental de qualquer pessoa que, como eu, aprecia (e muito) as suas duas a três horas de televisão diária. Nesse negro dia de 1993 nascia a TVI... Já tinhamos a SIC e os primeiros tempos dessa estação não tinham prometido muito (uns concursos manhosos e um ou outro filme). Era natural que a primeira emissão de um canal que se anunciava como predominantemente católico também não nos entusiasmasse muito... e menos entusiasmados ficámos com as primeiras aberrações transmitidas pelo dito canal ( uma tal de Olga era considerada amiga dos portugueses, vá-se lá saber porquê!).

Com o passar dos anos a coisa foi-se compondo... E compôs-se de tal maneira que, a certa altura, pus a hiótese de me reconverter ao catolicismo! Especialmente durante os breves meses em que os filmes da TVI passavam sem intervalo. Era quase maravilhoso (quase porque se um gajo não calculava bem as coisas corria o risco de ter que se levantar a meio do filme para ir buscr outro pacote de amendoins ou para ir à dispensa buscar mais uma garrafa de Coca-Cola)! Aquilo funcionava bem, havia uma harmonia entre os espectadores e os programadores como nunca antes tinha havido (excepto quando a RTP tinha os direitos sobre os europeus e os mundiais de futebol e transmitia todos os jogos – isso é que era empatia!). Mas como tudo o que é bom tem que ser fodido pela televisão (até fizeram uma série de televisão a partir do Tremors), começaram os intervalos. A príncipio, para a malta não desconfiar, era só um intervalo, não muito longo. Depois passou a dois menos longos. A terceira fase consistia em quatro intervalos (como popularizado pela RTP), todos com uma duração muito curta. E foram fazendo os seus reajustes até chegarem aos pornográficos intervalos que todos conhecemos.

Por certo já todos pensámos, pelo menos uma ou duas vezes, sobre o que é possível fazer durante um intervalo da TVI... Eu fartava-me de pensar! Até que um dia me cansei e passei à prática – fiz uma tradução de Horácio (não estou a gozar – aquilo no liceu era muito exigente)... A partir daí foi sempre a somar: composições de inglês, composições de francês, exercícios de informática e até cheguei a estudar para um teste de Expressão Dramática (parece mais sério do que dizer “estudei para teatro”) sobre máscaras (o tédio era total!). As coisas foram-se agravando até chegarem ao cumúlo de se poder fazer um jantar (e jantar) num só intervalo. Conheço pessoas que fizeram (ou estão a fazer) teses durante os intervalos da TVI. A coisa ficou tão séria ao ponto de, muitas vezes, me esquecer de que estou a ver, por exemplo, o Karaté Kid 4 (que toda a gente sabe ser a prequela do Million Dollar Baby). É claro que se pode perguntar: “porque é que o gajo não arranja TVcabo?” Primeiro porque quando estava no liceu não havia TVCabo. E em Lisboa não há Tvcabo na zona em que a minha casa está instalada, evidentemente! E mesmo que houvesse, que canal da cabo passa o Rambo II? Teria sempre que lidar com a TVI e com os seus intervalos. O ideal seria o sistema dos Morangos com Açucar: um relógio em contagem decrescente para o fim do intervalo. Assim, quando começasse um intervalo, o relógio poderia evoluir eloquentemente desde os 45 minutos até à contagem decrescente (entoada por toda a familia) dos últimos segundos... depois poder-se-ia exclamar em uníssono: “Ah! Afinal estávamos a ver o Sozinho em casa 3!” E naturalmente que alguém responderia: “Epá, ia jurar que era o 4!”

Na Irlanda a coisa funciona com intervalos de quinze em quinze minutos, geralmente bastante curtos. Não é o melhor sistema, especialmente para filmes, mas pelo menos sempre me vou lembrando do que estou a ver. O curioso aconteceu quando estava muito entretido a ver o True Lies e a meio do primeiro intervalo começa o telejornal. Não a síntese das notícias, não um compacto, mas o verdadeiro telejornal de três quartos de hora, com direito a resumos do campeonato inglês e tudo (do mal o menos!)... Isto não foi novidade para mim – a TVI já o tinha feito, embora nunca tivessem ido tão longe ao ponto de darem o Jornal da Noite num intervalo. Mas se a moda pega, em breve teremos a Manuela Moura Guedes a falar sob um relógio a fazer a lenta contagem decrescente para a segunda parte dos Morangos com Açucar, a famosa parte onde se podem ver duas cenas nunca vistas...

2 comentários:

Shôtôr disse...

Certo dia durante a exibição "pára ou mamã dispara" na dita TVI, aporveitei os intervalos para fazer um quato e sala completos, incluindo cama, mesa, 6 cadeiras 3 sofás, cómada, 3 estantes, 2 molduras e uma mesa de cabeceira, tudo em pinho maciço com acabamentos finais e ainda fiz caixilharia em alumínio para toda a minha sala...
Ufa, e ainda me sobrou tempo para jogar uma partida pro evolution soccer na x-box.

saudações biliares,

Desidério queluz de baixo.

J. Salinas disse...

Fazer teses nos intervalos da TVI? Mas existe outra forma? Eu não conheço.