5.2.07

Abortar, Repetir ou Cancelar?



Vai já para mais de uns quinze dias, que meti um daqueles autocolantes dos correios que dizem "Publicidade Não!" na minha caixa do correio. Mas depois tive que meter outro que diz "Dica Sim!", porque gosto de ver promoções de coisas assim meio coisas que às vezes há lá. Meti também um autocolante daqueles da RR, para que no caso do repórter de trânsito passar por aqui perto e não haver carros em circulação, e eu poder encher o blusão com uma bela maquia. Finalmente, decidi meter um autocolante com o meu nome porque tava farto de receber cartas destinadas a pessoas que já morreram.
Mas todo este trabalho foi em vão. Claramente que eu não estava prevenido para uma ocorrência que seguidamente se sucedeu ali mesmo naquele local. Então não é que um bando de pessoas em manada enfiou-me um panfleto na caixa por causa deste assunto de que se fala muito agora e que tem a haver com aquilo que se debate amiúde na televisão por causa daquela coisa do aborto!? Não tenho nada contra as pessoas que são contra coisas assim do género de implantes, transplantes, lapidações, barulho ou abortos. O que me chateia é não respeitarem os autocolantes. É sabido, e até vem em livros, que os autocolantes com avisos são a argamassa que unifica esta pilha de tijolos que são as regras de conduta social desta nossa forma de vida colectiva e conjunta que é a nossa sociedade.

O tal panfleto (que na verdade até devia ser uma brochura ou mesmo um desdobrável), tinha pontos de vista, argumentos e até opiniões. E como toda a gente sabe, isto de emitir opiniões e pontos de vista é meio caminho andado para se cair no ridículo. Pelo menos é o que, do meu ponto de vista, eu acho. O pior é que o tal documento que já foi aqui previmente referido, tinha o seguinte slogan: VOTA NÃO! E isso, no meu prisma e no meu ver das coisas, está mal! E porquê? Bem, se o assunto aqui é votar, julgo que deveria existir o cuidado e o aprumo de marketing que uma coisa destas exige. É impressão minha ou isto do VOTA NÃO é muito dislexicamente parecido com NÃO VOTA!? Pois tá claro que é! Então não venham depois reclamar que muita gente absteve-se e não sei quê. Pudera! Pois tá claro que pudera! Quando se lê de esguelha, a mensagem não passa. Olhem para a malta do SIM, esses pensaram nisso! Pois tá claro que sim! VOTA SIM, SIM VOTA!

Mas o pior ainda estava para vir. Quem é que raio foi desencantar argumentos sob a forma de interrogações assim meio p'ró filosóficas? Assim daquelas que nos fazem pensar e tudo. Não sei. Só sei que eram francamente parvas. Ora vejam:
"Queremos viver numa sociedade que desprotege o início da vida humana mas protege os ninhos das cegonhas?" - O quê!? Mas que raio é isto? Então o início da vida humana e as cegonhas não são a mesma e uma só coisa? Eu cá não acredito na treta de que as crianças que nascem nas couves - se bem que isso explicaria o facto das crianças nunca as quererem comer - ou que vêm de França de comboio. Isso são os emigras e é só em Agosto, e eu por exemplo, nasci em Julho. Todos viemos das ou com as cegonhas. É esse o início da vida humana! Então e agora querem evitar o aborto mas depois não se importam com os ninhos das cegonhas!? Afinal em que ficamos?

A outra interrogação que este manifesto de defesa da vida nos fazia era a seguinte: "Queremos viver numa sociedade que por um lado dá às mães o direito de eliminar a vida do bebé, só porque têm menos de 10 semanas mas por outro lado multa quem transporta crianças sem cadeirinha?" Eu esta até percebo. De facto acho mal que em pleno século XXI, ainda exista desigualdade nos direitos entre homens e mulheres. Se dão um direito às mulheres de eliminar a vida dos seus filhos logo às 10 semanas, porque que é multam homens e mulheres quando conduzem os seus filhos sem cadeirinha? Justo seria que, aprovada a lei do aborto, multassem apenas as mulheres por não usarem a cadeirinha quando conduzem os seus filhos porque, ao contrário dos homens, estas já tiveram anteriormente a sua oportunidade de eliminar a vida dos filhos. As mulheres não podem continuar a serem umas privilegiadas como têm sido até agora. Acho bem que os homens travem estas batalhas da igualdade de direitos e fico contente por saber que a última batalha até já foi ganha - a do cancro da mama. Viva a igualdade de direitos!

Não quero com isto que me julguem um daqueles defensores ferrenhos de uma causa que ataca os argumentos da oposição e que os tenta ridicularizar ao retirá-los do contexto e que albarda o burro à vontade do dono. Não senhor! Caso ainda não tenham compreendido, eu sou a favor do NÃO, apesar de não ser contra o SIM. No fundo eu até gostaria era de militar pelo TALVEZ. Ou até o mesmo o TALVEZ NÃO ou o TALVEZ SIM. Militaria certamente pelo o LOGO SE VÊ. Com certeza que talvez sim!

Tenho em mim que isto do aborto é como o futebol. O que me mais interessa é a argumentação e não o resultado. E as semelhanças nem se ficam só por aqui: tal como alguns jogos, o aborto também calha a um Domingo. Se a ideia dos senhores que fizeram o panfleto era que a ralé votasse NÃO, então porque não usaram um argumento assim de peso? Eu passo a exemplificar: como todo o país já reparou, os finalistas d' "O Melhor Português de Sempre"são assim um bocado para o fanhoso. E eu pergunto: "Isto porquê?" Porque pelos vistos, ainda não nasceu um português que fosse suficientemente bom para ser "O Melhor Português de Sempre". E a culpa de quem é? É do aborto, pois é claro!

6 comentários:

e disse...

estás convidado para ir ao galinheiro do bonecas a arder...

Anónimo disse...

...ou passear por qualquer lado!

Anónimo disse...

vota nim!

Sacrilegius disse...

Não percebi a expressão :
"Mas todo este trabalho em foi vão" (linha 11, 2º parágrafo)
Não teria sido melhor abortar esta frase antes de a lançar para uma vida de sofrimento no meio deste post ?
Pergunto eu, que vá lá, destas coisas não percebo nada e coiso, mas é só uma dúvida.
Mas já sei e tal, vão corrigir e depois vêm para aqui perguntar com o ar mais cândido deste mundo o que é que eu queria dizer. É típico.

Anónimo disse...

Eu não sei do que é que estás a falar. Até te digo mais: se eu errasse era gajo para dar aqui a cara e assumir os meus erros. Mas não, eu nunca erro.

e disse...

e raramente te enganas, não?