Dois Mil e Seis, Schmois Mil e Seis!
Geralmente sinto-me sempre insatisfeito pelos planos que deixei por concretizar e muitas vezes de consciência pesada por ter arranjado todas as desculpas possíveis para não os concretizar.
A conclusão a que chego é que funciono essencialmente por reacção, o que é o cúmulo da passividade, sobretudo quando julgo que muito do que faço, faço-o por gosto.
Tenho duas facetas dentro de mim, uma mais lúcida mas incapaz de agir; e outra menos lúcida mas também incapaz de agir.
O grandioso esquema que aplico a mim próprio para me mover é, usando a sageza do Tiago mais lúcido (T+L), preparar armadilhas ao Tiago menos lúcido (T-L).
Para acordar de manhã, o T+L da noite anterior põe o alarme do telemóvel para uma hora madrugadora e esconde-o num recanto do quarto, para que, na manhã seguinte o T-L se veja obrigado a levantar e a procurá-lo.
Para fazer a cama de lavado (quando dormir nos mesmos lençóis se torna insustentável), o T+L tira-os de manhã da cama, para que à noite, o T-L estafado de um dia de trabalho, seja obrigado a pôr lençóis novos se quer ir dormir (obviamente que dormir sem lençóis é uma hipótese, mas gosto de acreditar que fui evoluindo ao longo dos anos).
Para ler os livros que se vão acumulando na prateleira, o T+L já não pega no jornal “Metro” antes de ir trabalhar. Assim, quando o T-L está aborrecido dentro do metro, não tem outro remédio se não ler o livro surgido misteriosamente no bolso do seu casaco (posto lá adivinhem por quem).
Para começar a trabalhar logo de manhã, O T+L deixa a porta do gabinete aberta. O T-L sente-se assim menos confortável, pressionado pelas pessoas que passam no corredor, e dedica-se ao trabalho.
É claro que quando os dois Tiagos estão próximos, as armadilhas nem sempre funcionam. Algumas vezes, o T-L levanta-se para fechar a porta. A Internet consegue assim mais um visitante e o T+L uma pequena derrota.
Com muita tristeza minha, continuar a enumerar o resto do meu dia só iria fundamentar ainda mais a minha teoria. (Quem é que me pôs uma sandes de queijo no outro bolso do casaco? Eu tinha pensado num bolo com creme para esta tarde...)
Por mais deficiente que este método-da-reacção seja, tem conseguido guiar-me a vida toda. Há, inclusivamente, pessoas que me levam a sério.
No entanto, em alguns momentos hum... mais lúcidos, sinto que fico aquém do que gostaria, e o ano que passou não foi excepção.
Provavelmente, em relação aos planos deixados por concretizar, o ano de 2006 continuará igual se não tomar uma de duas atitudes:
a) Ou realmente ganho força de vontade de, mesmo com poucas horas livres por dia, trabalhar para mim e evoluir naquilo que gosto;
b) Ou então só me resta esperar que o Tiago mais lúcido se lembre finalmente de uma armadilha irrepreensivelmente genial para me obrigar a trabalhar.
Espero aliás que ele esteja a pensar nisso enquanto eu dou a última vista de olhos às contratações no Record Online.