O Metro, pá, o Metro, pá...
Muito antes de ser um filme horrível com o Eddie Murphy, o Metro é uma obra do demónio. Bem sei que já escalpelizei vagamente este assunto noutro bordel, mas não tenho culpa que o dito seja pródigo em gerar situações que enervavam até o Homem Estátua (sim, aquele da Maceira que tem o recorde do mundo). Aqui ficam mais oito fenómenos que só este meio de transporte tão fascinante parece ser capaz de produzir.
1 - Poças com substância desconhecidas. É verdade que a maior parte já foi coberta de serradura quando nos deparamos com elas, mas, e tendo bem presente que ao Metro não se pede que seja o sítio mais asséptico do mundo, era suposto, no mínimo, não termos que nos interrogar sobre o que raio acabamos de pisar e que nos manteve colados ao chão durante alguns angustiantes segundos.
2 – Velhos que ficam lixados por lhe oferecermos o nosso lugar. Ainda não percebi bem, mas parece que para estas pessoas oferecer-lhes o nosso lugar equivale a dizer “acho que você não se vai aguentar em pé, vai desfalecer, provavelmente até morrer aqui, e eu tenho bem mais que fazer que ficar no Metro a dar o meu depoimento à polícia. Por isso, sente-se mas é aqui que estou com pressa, ó carcaça dum raio!”
3 – Pessoas cuja disposição da massa corporal as faz adoptarem uma postura tudo menos condigna perante a minha. Isto é, correu qualquer coisa mal durante o processo mútuo de acomodamento imediatamente após a entrada no Metro e agora estou com um indivíduo cuja cabeça está quase colada à minha. Destaco neste fenómeno concreto as pessoas que têm capachinhos (e a, pelos vistos, indispensável substância – parecida com massa consistente - que os mantém colados ao utente) que ficam a escassos centímetros do meu nariz (antes que perguntem, cheiram a tapete, claro); e as pessoas que têm grandes bocados de pasta de dentes fossilizados na cara, sobretudo aquelas em que o rasto do dentífrico assume formas tão complexas que somos incapazes de reconstituir o caminho que adoptou.
4 - Pessoas que tem notórios problemas de equilibro e se agarram ou encostam a todos os manípulos, varões, bancos e pessoas possíveis, deixando nenhuma alternativa aos pobres diabos que só queriam ter um ponto de apoio e que passam a ser obrigados a imitar um trapezista profissional.
5 - Pessoas que lêem o Código da Vinci e, pior ainda, já tinham o livro novo do Dan Brown (em que o aviso “Do autor de ‘O Código da Vinci’” era bem maior que o título do próprio livro) na manhã em que aquela merda saiu.
6 - Pessoas que têm 20 lugares livres a 30 centímetros, mas que fazem plantão exactamente onde estou sentado, à espera que eu lhes ceda o meu lugar. E usam aquele truque ridículo de começar a suspirar ou a arfar. Poupem-me, foda-se! Só porque nasci com uma pila, tenho que esperar até usar bengala para me poder sentar descansado?
7 - Pessoas que se armam em Paulinho Santos e mexem os cotovelos à balda em hora de ponta. Um exemplo comum é o metro estar à pinha e um iluminado qualquer decidir levantar o braço bruscamente para atacar uma comichão súbita que lhe assaltou o cachaço, balançando extremidades e obrigando quem o rodeia a adoptar as posições de defesa que aprendeu no Karaté Kid I e que julgava esquecidas.
8 - Pessoas que tocam bateria em todas as superfícies que existem. O mais comum é usar as chaves de casa para compor uma sinfonia que já existe há 400 anos com a ajuda do varão central. Isto é particularmente irritante. Chega a dar luta a esse nobre acto de experimentar todos os toques do telemóvel.