30.5.05

Dermatologia Social II

O Metro, pá, o Metro, pá...


Muito antes de ser um filme horrível com o Eddie Murphy, o Metro é uma obra do demónio. Bem sei que já escalpelizei vagamente este assunto noutro bordel, mas não tenho culpa que o dito seja pródigo em gerar situações que enervavam até o Homem Estátua (sim, aquele da Maceira que tem o recorde do mundo). Aqui ficam mais oito fenómenos que só este meio de transporte tão fascinante parece ser capaz de produzir.

1 - Poças com substância desconhecidas. É verdade que a maior parte já foi coberta de serradura quando nos deparamos com elas, mas, e tendo bem presente que ao Metro não se pede que seja o sítio mais asséptico do mundo, era suposto, no mínimo, não termos que nos interrogar sobre o que raio acabamos de pisar e que nos manteve colados ao chão durante alguns angustiantes segundos.

2 – Velhos que ficam lixados por lhe oferecermos o nosso lugar. Ainda não percebi bem, mas parece que para estas pessoas oferecer-lhes o nosso lugar equivale a dizer “acho que você não se vai aguentar em pé, vai desfalecer, provavelmente até morrer aqui, e eu tenho bem mais que fazer que ficar no Metro a dar o meu depoimento à polícia. Por isso, sente-se mas é aqui que estou com pressa, ó carcaça dum raio!”

3 – Pessoas cuja disposição da massa corporal as faz adoptarem uma postura tudo menos condigna perante a minha. Isto é, correu qualquer coisa mal durante o processo mútuo de acomodamento imediatamente após a entrada no Metro e agora estou com um indivíduo cuja cabeça está quase colada à minha. Destaco neste fenómeno concreto as pessoas que têm capachinhos (e a, pelos vistos, indispensável substância – parecida com massa consistente - que os mantém colados ao utente) que ficam a escassos centímetros do meu nariz (antes que perguntem, cheiram a tapete, claro); e as pessoas que têm grandes bocados de pasta de dentes fossilizados na cara, sobretudo aquelas em que o rasto do dentífrico assume formas tão complexas que somos incapazes de reconstituir o caminho que adoptou.

4 - Pessoas que tem notórios problemas de equilibro e se agarram ou encostam a todos os manípulos, varões, bancos e pessoas possíveis, deixando nenhuma alternativa aos pobres diabos que só queriam ter um ponto de apoio e que passam a ser obrigados a imitar um trapezista profissional.

5 - Pessoas que lêem o Código da Vinci e, pior ainda, já tinham o livro novo do Dan Brown (em que o aviso “Do autor de ‘O Código da Vinci’” era bem maior que o título do próprio livro) na manhã em que aquela merda saiu.

6 - Pessoas que têm 20 lugares livres a 30 centímetros, mas que fazem plantão exactamente onde estou sentado, à espera que eu lhes ceda o meu lugar. E usam aquele truque ridículo de começar a suspirar ou a arfar. Poupem-me, foda-se! Só porque nasci com uma pila, tenho que esperar até usar bengala para me poder sentar descansado?

7 - Pessoas que se armam em Paulinho Santos e mexem os cotovelos à balda em hora de ponta. Um exemplo comum é o metro estar à pinha e um iluminado qualquer decidir levantar o braço bruscamente para atacar uma comichão súbita que lhe assaltou o cachaço, balançando extremidades e obrigando quem o rodeia a adoptar as posições de defesa que aprendeu no Karaté Kid I e que julgava esquecidas.

8 - Pessoas que tocam bateria em todas as superfícies que existem. O mais comum é usar as chaves de casa para compor uma sinfonia que já existe há 400 anos com a ajuda do varão central. Isto é particularmente irritante. Chega a dar luta a esse nobre acto de experimentar todos os toques do telemóvel.

8 comentários:

Freekowtski disse...

Eu sou aquilo que os Ingleses chamam um "has been funny".

J. Salinas disse...

Relativamente à falta de insultos aos cegos, pobres e maltrapilhos, eu acredito (desde que a minha professora Laurinda mo apresentou na 2ª classe) na máxima 'Não gozes que ainda podes ficar/ou ter um filho assim'.

Mesmo assim, de entre os maltrapilhos, o meu preferido é aquele pobre rapaz a quem falta sempre um euro para apanhar o expresso para um lugarejo qualquer que varia semanalmente...

Já agora, nunca tive o prazer de servir de objecto masturbatório das saudáveis pessoas que praticam essa nobre actividade no Metro... quem sabe um dia.

Freekowtski disse...

Faltam aqui neste texto do Pedro, dois aspectos negativos do metro:
- pessoas com odor corporal
- pedintes

J. Salinas disse...

Já disse o que tinha a dizer sobre os pedintes! A minha professora da primária avisou-me logo: 'Não gozes porque ainda podes ficar/ter filhos assim!" Isto só pode ser verdade, caraças!

Perguntem aos gémeos. Eles sabem que eu, por exemplo, e aos contrário deles, não gozo com pessoas que tiveram cancro na laringe e falam daquela forma esquisita. É a minha forma de estar na vida e, por favor, respeitem-na.

Quanto ao odor corporal... eu respiro pela boca. Faço figura de parvo, mas pelo menos não desmaio e caio no chão do Metro (equivalente ao chão de um WC de festival de verão).

J. Salinas disse...

Tiaguinho, o Darth Vader não escreve num bloco, pois não (o filme pior não ficava)? Porque é que os pobres operados o hão-de fazer? Você é vil e mesquinho! E tudo porque não teve uma professora na primária que lhe ensinasse a máxima que rege o mundo!

Anónimo disse...

Que fixe! Ao menos neste post os comentários não parecem uma conversa de Messenger...

J. Salinas disse...

Isto é um post profissional, caro João... não é como a outra brejice que se lê por aqui.

Anónimo disse...

Very cool design! Useful information. Go on! » » »